14 de maio de 2024
O modelo Flipped Classroom na formação E-learning
Na entrega do conhecimento, uma mudança de papel entre aluno e professor consegue no estudante uma atitude ativa e colaborativa, que o coloca como protagonista no centro do processo de sua própria aprendizagem.
Os dois tempos da aprendizagem
Recentemente, a incorporação da tecnologia na sociedade trouxe uma mudança radical em nosso modelo de vida e trabalho em relação ao das gerações anteriores. Com isso, estamos passando por um acelerado processo de adaptação e necessidade de inovação no qual continuamos trabalhando.
A obrigação de adquirir novos conhecimentos e mantê-los permanentemente atualizados agora se apresenta como um objetivo fundamental para conservar nossa competitividade profissional, em um mercado global e em constante transformação. Por isso, nas empresas e organizações, a formação contínua das pessoas é uma meta inadiável para melhorar e manter seu posicionamento.
Assim como os demais setores, o da educação enfrenta esta nova etapa. Nesse sentido, a introdução de novas formas de transmitir o conhecimento representa um avanço significativo na evolução e aumento da eficácia dos processos de ensino.
Entre todas elas, falaremos neste caso da flipped classroom ou sala de aula invertida. Uma técnica que surge do interesse de jovens educadores em adotar um discurso renovado e incorporar as novas tecnologias no modelo de formação presencial. Uma proposta que sugere uma mudança de paradigma na entrega do conhecimento: inverter a ordem dos atores que participam do processo.
Ou seja, do modelo em que o professor dedica o tempo de aula fundamentalmente a transmitir aos alunos um determinado conteúdo para que, em seguida, fora da sala de aula, eles estudem e assimilem, com o apoio de leitura e visualização de documentação complementar, passamos para um modelo que propõe uma mudança de papel.
Agora, a partir da entrega de uma série de dados e referências, aproveitando a facilidade e alcance dos novos meios digitais, é o aluno, fora do tempo presencial, que primeiro busca e investiga sobre o tema, para depois na sala de aula analisar resultados e debater as dúvidas e perguntas com os demais colegas e o professor.
Assim, nesta nova situação, aquilo que chamávamos de “documentação complementar” agora se torna material de busca e análise deste primeiro tempo. Um modelo que, acima de tudo, busca provocar no estudante uma atitude ativa e colaborativa, que o coloque como protagonista no centro do processo de sua própria aprendizagem.
A Sala de Aula Invertida no ambiente E-learning
Mas como a técnica da sala de aula invertida se adapta aos formatos de e-learning?
No modelo de sala de aula invertida na formação a distância, também falamos de uma sala de aula em dois tempos. Mas, neste caso, ambos em formato virtual; o primeiro, assíncrono, e o segundo, síncrono. Ou seja, no primeiro, a partir dos dados enunciados pelo especialista docente, os alunos investigam cada um por conta própria, sem necessidade de compartilhar horário ou espaço de formação. E no segundo, junto com o especialista, todos se reúnem na sala de aula virtual ao vivo para compartilhar resultados e debater propostas.
Portanto, a única diferença da flipped classroom em ambientes e-learning, em relação à sua aplicação na formação presencial, é o fato de que, no segundo momento, em que os participantes se encontram na sala de aula presencial, esta é substituída por uma sala de aula virtual, fazendo uso de recursos incorporados na plataforma LMS, como a sala de videoconferências.
E em que tipos de formação é recomendável a aplicação da flipped classroom?
A sala de aula invertida é especialmente recomendada, por exemplo, em todos aqueles módulos de formação orientados a projetos, nos quais, além do manejo de habilidades de compreensão, o aluno deve desenvolver habilidades de aplicação. Para entender melhor, vamos analisar um caso.
Temos uma empresa que fabrica componentes elétricos para sua instalação em obras públicas e civis. A seleção e escolha da solução que oferecemos deve passar pela análise e validação rigorosa da equipe técnica do cliente. Um processo que implica responder a todas as suas perguntas com precisão e saber aconselhá-lo sobre a aplicação ótima e ajuste às características próprias de seus projetos. Portanto, um bom treinamento de nossa equipe comercial, na oferta de produtos orientada a projetos, será decisivo para o sucesso da venda. Vamos, então, mãos à obra.
Montamos um curso e-learning. Após a apresentação em formato assíncrono dos modelos e características de nossos componentes, propomos a seguir uma atividade que tem como objetivo adquirir a capacidade de incorporá-los corretamente no design de uma obra. Assim, a partir do briefing de um projeto simulado, propomos aos alunos que busquem e analisem informações relacionadas (projetos de características similares, casos de sucesso, ofertas da concorrência, etc.) e, em seguida, apresentem sua melhor solução.
Para isso, o formato flipped classroom funcionará muito bem. Na primeira etapa, de busca e análise, aplicaremos o formato assíncrono. Depois, com os resultados obtidos, passaremos ao formato síncrono, no qual os alunos e o especialista se reunirão online para compartilhar e debater suas descobertas e propostas.
Graças a essas informações cruzadas e à experiência e ponto de vista dos demais colegas, a visão de cada um deles será ampliada significativamente, aumentando sua capacidade de resposta a perguntas e situações que possam surgir em casos reais. Isso os coloca, a partir deste momento, em uma posição de vantagem em relação aos outros, para oferecer a melhor solução na aplicação dos produtos no projeto.
Dessa forma, e como resultado desse processo, teremos incentivado que os integrantes da nossa equipe de vendas incorporem às suas competências uma nova habilidade: além de serem simplesmente aquele comercial que vende componentes elétricos, serem agora um competente assessor que entende e compartilha a problemática dos projetos de seus clientes.
O papel do especialista dinamizador na Flipped Classroom
Assim como nas demais dinâmicas colaborativas, no modelo flipped classroom o papel do especialista dinamizador é essencial. Aqui, ele não é mais um mero transmissor de conhecimento. Agora, ele é o promotor da aprendizagem autônoma do estudante e um estimulador do trabalho cooperativo.
A responsabilidade desse especialista é orientar e guiar os alunos para que adquiram novos conhecimentos, os apliquem adequadamente e participem ativamente nas apresentações e debates, promovendo um ambiente dinâmico e interativo que favoreça a formação.
Portanto, é de vital importância sua capacidade de socializar a sala de aula, propor desafios, criticar de forma construtiva, valorizar as propostas, abrir novas linhas de debate e manter a participação em todos os momentos. Devemos ter em mente que aqui os alunos não aprendem “dele”, mas “com ele”. E sua intuição para guiar esse caminho, sem impor critérios personalistas, é fundamental para fazer emergir a criatividade e o pensamento crítico dos alunos.
Conclusões
Como dissemos, e favorecido pelo avanço dos recursos tecnológicos –entre outros: a imediatidade de acesso à informação, a interconectividade e a ubiquidade das pessoas–, estamos em um momento de grandes mudanças. E se a isso somarmos os efeitos da pandemia do COVID-19, que vivemos nestes últimos dois anos, poderemos apreciar como ao nosso redor estão sendo geradas novas formas de fazer.
O teletrabalho que havíamos incorporado como alternativa provisória em uma situação de crise, longe de esquecê-lo nesta nova etapa pós-pandêmica, é agora proposto, quando o modelo de trabalho permite, como uma grande oportunidade para conciliar a vida pessoal e laboral de muitas pessoas trabalhadoras, melhorando assim sua qualidade de vida.
Por outro lado, hoje grande número de ambientes de formação, ainda recuperando a presencialidade para a maioria de seus programas docentes, já incorporam o blended learning e o e-learning como valor competitivo de sua atual oferta educativa.
E se nos deslocarmos ao ambiente de empresas e organizações, podemos apreciar como muitas delas estão reforçando e potencializando seus programas de formação a distância.
Por isso, se como pessoa responsável por alguma destas você se encontra no processo de transformação e otimização de seus conteúdos docentes, não esqueça que técnicas como o flipped classroom podem melhorar a qualidade e resultado de sua formação.
Lembre-se:
- A introdução de novas formas de transmitir o conhecimento representa um importantíssimo avanço na evolução e aumento da eficácia dos processos docentes.
- A flipped classroom é uma técnica que, invertendo o papel de aluno e professor na entrega do conhecimento, busca provocar no estudante uma atitude ativa e colaborativa, que o coloca como protagonista no centro do processo de sua própria aprendizagem.
- A flipped classroom está especialmente recomendada em modelos formativos orientados a projetos, nos quais, além do manejo de habilidades de compreensão, o aluno deve desenvolver habilidades de aplicação.
- E não esqueça, o especialista dinamizador socializa a sala de aula, propõe desafios, critica de forma positiva, valoriza as propostas, abre novas linhas de debate e mantém a participação em todo momento. Seu papel é fundamental. Mas os alunos já não aprendem apenas “com ele”, mas “com ele”.
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